A comunicação nos dias de hoje: o contexto das mídias alternativas

em quarta-feira, 5 de junho de 2019



As transformações, possibilidades e desafios da comunicação em rede foram as questões apontadas na reunião dos grupos de pesquisa MidCid e MidCon, encerrando as discussões acadêmicas do primeiro semestre de 2019

Pensar a comunicação no contexto das mídias alternativas contemporâneas foi a proposta dos grupos de pesquisa MidCid e MidCon no colóquio que encerrou as discussões acadêmicas do primeiro semestre de 2019, realizado no dia 03 de junho. A reunião contou com a participação da professora doutora Marcia Eliane Rosa, do Mestrado em Linguagens, Mídia e Arte da PUC-Campinas, e do professor doutor Benedito Aparecido Cirino, da Universidade de Sorocaba.

Com o objetivo de refletir sobre os estudos do processo comunicacional contemporâneo, a pesquisadora Marcia Eliane Rosa diz ser necessário entender alguns pontos. O primeiro é que, nos dias de hoje, a comunicação se tornou mais fluída e orgânica por conta da existência de redes digitais. Depois, é preciso compreender que há um processo de construção e reconstrução da informação, além de ser importante perceber as relações da informação como conhecimento, desinformação e comunicação.

Marcia Eliane Rosa é pós-doutora em Comunicação, 
doutora em Ciências da Comunicação, mestre em 
Comunicação Mercado e Graduada em Comunicação 
Social- Jornalismo
Segundo a professora, recorrer à história auxilia no entendimento de como a comunicação acontece atualmente, ou seja, de forma não linear. Por isso, ela relembra a teoria tecno-comunicação, em que se trabalhava apenas com a noção emissor-receptor; a teoria funcionalista, com o modelo proposto por Harold Lasswell, em que um ato comunicacional consiste em responder “quem? diz o quê? em qual canal? para quem? com qual efeito?”; até chegar na abordagem estruturalista, com a materialidade do texto-imagem, e nas mudanças propiciadas pela comunicação em rede, em que todos podem, simultaneamente, produzir, emitir e consumir uma informação. Entre as transformações que ocorreram, hoje também precisa considerar que a mídia não mais influencia, mas possibilita a arquitetura e a construção do fluxo informacional.

Rosa chama atenção, ainda, para o fato de as redes propiciarem a falta de referência, a desorientação e, inclusive, a desinformação. Não há mais um parâmetro: “Não se sabe mais o que é certo ou errado, o que é ético ou não ético”, enfatiza.

Bruno Henrique Batista Teixeira é mestrando em
Linguagens, Mídia e Arte pela PUC-Campinas,
com graduação em Jornalismo
Ao complementar a apresentação da professora, o mestrando Bruno Henrique Batista Teixeira, orientando de Rosa, abordou sobre três atores que atuam na internet e nas redes sociais com potencial de interferir no processo comunicacional. O primeiro é a multidão de anônimos, em que qualquer um pode emitir, receber, compartilhar e resignificar uma mensagem, por exemplo. O segundo são os líderes de opinião, que podem ser caracterizados tanto como laços fortes quanto laços fracos. Os laços fortes são aqueles construídos a partir de um vínculo direto, isto é, por conhecer determinada pessoa (família, amigos), ela influencia na formação de opinião da outra. Por sua vez, os laços fracos se dão por meio de uma relação mediada, a partir de influenciadores digitais e comunicadores institucionalizados, por exemplo. Já o terceiro ator é formado pela comunidade virtual/organizada, como é o caso de grupos que defendem uma determinada bandeira, exemplo o Movimento Brasil Livre (MBL). Essas observações fazem parte de um artigo que Rosa e Teixeira escreveram sobre A comunicação das redes – Um estudo do caso Marielle Franco, em que eles propõem ver como acontece a construção e reconstrução das mensagens veiculadas pela mídia a partir de narrativas a respeito da morte da vereadora do Rio de Janeiro.

Já o professor Benedito Aparecido Cirino iniciou suas falas se amparando no campo da filosofia para se chegar à comunicação na atualidade. Ele aponta para a instabilidade da dinâmica da vida e na impossibilidade de se conhecer o mundo por completo.

Benedito Aparecido Cirino é doutor em Educação,
com mestrado em Ética e graduação em Filosofia
Neste contexto, o conhecimento, entendido como fenômenos (ou seja, a manifestação das coisas), é complexo e se altera o tempo inteiro. No entanto, não compreender como se dá essa construção do conhecimento traz consequências para a sociedade. Ou seja, tornam-se possíveis interferências na condução desta, influenciando comportamentos e atitudes da população em pró daquilo que grandes grupos econômicos desejam. O professor exemplifica a questão com as mídias digitais: “O Facebook é um lugar onde seres humanos deram seus dados para serem controlados a partir dessa complexa construção do conhecimento”, explica. O compartilhamento de conteúdo sem criticidade, e sem ao menos entender o teor da mensagem, alimentaria esse sistema.

Ao encerrar a reunião, o professor traz, ainda, uma provocação sobre as fake news inseridas nesse cenário. “Fake news não é algo fake, porque ele muda a realidade, ganha eleições. Às vezes, ele tem um potencial maior de intervenção da realidade do que aquilo que é considerado verdadeiro. Mas por que é possível fazer isso? Porque as pessoas não têm condição de estudar o conteúdo das mensagens que recebem”, salienta o docente, reconhecendo a existência de diversas ferramentas tecnológicas mas, por outro lado, uma ausência de consciência de como lidar com elas.

Texto: Jennifer Lucchesi
Revisado por: Mara Rovida
Fotos: Jennifer Lucchesi e Felipe Parra

Outras fotos do encontro:






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