Cidades diante da encruzilhada climática: o crescimento pode ser sustentável?
Fonte: ICTA-UAB
As cidades podem continuar crescendo sem destruir o planeta? Um novo estudo do ICTA-UAB oferece uma visão sobre essa questão complexa.
Embora não exista uma resposta geral para a pergunta sobre se o crescimento urbano sustentável é possível — pois isso depende das condições físicas locais e dos níveis de desenvolvimento —, o que está claro é que o crescimento urbano contínuo não é desejável em todos os lugares. Alcançar maior sustentabilidade exigirá planejamento rigoroso, governança efetiva e uma reavaliação crítica dos discursos dominantes sobre desenvolvimento.
Apesar de as cidades serem atores-chave na luta contra a mudança climática, seu crescimento econômico, demográfico e espacial continua gerando graves impactos ambientais difíceis de controlar. Em meio ao auge de abordagens econômicas como o crescimento verde, o decrescimento e o pós-crescimento, este novo estudo alerta sobre a falta de evidências empíricas claras a respeito de sua real efetividade em contextos urbanos.
Recentemente publicado na Nature Cities, o estudo apresenta a primeira visão geral do debate sobre crescimento econômico e meio ambiente nas cidades. Para isso, baseia-se em evidências empíricas de disciplinas como economia urbana, governança ambiental, planejamento urbano, ciência climática e sustentabilidade.
O artigo revisa comparativamente três abordagens contemporâneas de crescimento urbano:
- Crescimento verde, baseado em tecnologia e eficiência para reduzir impactos;
- Decrescimento, que defende a redução da produção e do consumo para preservar os ecossistemas;
- Pós-crescimento, que propõe deixar de priorizar o PIB em favor do bem-estar e da sustentabilidade.
Essas abordagens são analisadas por meio de quatro dimensões do crescimento urbano (econômica, demográfica, espacial e ambiental), considerando tanto os impactos quanto a viabilidade política.
“A principal contribuição do estudo é um marco conceitual comparativo que ajuda a compreender como interagem as diferentes formas de crescimento urbano e quais implicações têm para o futuro das cidades”, afirma Charlotte Liotta, pesquisadora do ICTA-UAB e autora principal do estudo.
A partir desse marco, são examinados exemplos reais de cidades que estão experimentando abordagens alternativas, como as superquadras de Barcelona e a estratégia do Donut de Amsterdã.
Não existem soluções universais
O estudo não defende uma única visão de crescimento, mas analisa de maneira neutra e equilibrada os pontos fortes e fracos de cada abordagem.
“Uma das principais conclusões é que a evidência empírica sobre o desacoplamento entre crescimento econômico e dano ambiental nas cidades continua sendo limitada, o que exige cautela em relação às promessas do crescimento urbano verde”, aponta Jeroen van den Bergh, pesquisador do ICTA-UAB e coautor do estudo.
Ao mesmo tempo, a pesquisa questiona certas propostas do decrescimento que advogam pela redução do tamanho dos centros urbanos, argumentando que grandes cidades não são intrinsecamente insustentáveis: sua densidade e escala podem oferecer reais benefícios ambientais (como transporte público mais eficiente e moradias mais sustentáveis) se houver planejamento adequado.
No que se refere ao crescimento populacional e à expansão urbana, o artigo adverte sobre suas consequências ambientais caso não sejam rigidamente controladas — incluindo aumento do consumo e das emissões, perda de biodiversidade e impermeabilização do solo.
Diante de visões simplificadas do desenvolvimento urbano, os autores defendem uma perspectiva mais crítica, integrada e baseada em evidências. O estudo não pretende encerrar o debate, mas fornecer ferramentas para compreendê-lo melhor, reconhecendo que as soluções sustentáveis sempre dependerão do contexto político, social e ambiental de cada cidade.
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Referência : Liotta, C., van den Bergh, J. The debate on growth versus environment at the urban scale. Nat Cities (2025). https://doi.org/10.1038/s44284-025-00269-z
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original em catalão disponível em https://www.sostenible.cat/node/130982

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