“O ticket conservador liberal nas representações simbólicas do passado” e “A subversão da mulher frente à dominação masculina no desafio de Cururu em Sorocaba” são as pesquisas que nortearam as discussões do encontro
O
mestrando Roldão Pires exibiu um trecho da série “Brasil- A última Cruzada” em
que se discute a escravidão.
Para o pesquisador, as estruturas das narrativas apontam problemas históricos conceituais
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O
último encontro de 2018 do Grupo de Pesquisa Mídia, Cidade e Práticas
Socioculturais (MidCid), realizado na segunda-feira (3/12), contou com a apresentação
das pesquisas de mestrado ainda em desenvolvimento de Luiz Carlos Rodrigues e
Roldão Pires. Ambos são alunos do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e
Cultura (PPGCC) da Universidade de Sorocaba.
Com
o título “A subversão da mulher frente à dominação masculina no desafio de
Cururu em Sorocaba”, Rodrigues falou sobre a tradição regional do Cururu, uma
manifestação marcada pela improvisação de rimas acompanhada por violas caipiras.
O pesquisador conta que o foco do estudo começou a tomar forma quando ele
identificou a ausência de mulheres nessa manifestação cultural. Elas participam
apenas como público ou como apoio nos bastidores dos encontros. Como exceção,
foram identificadas duas cururueiras, uma em Sorocaba e outra em Santa Bárbara
d"Oeste, ambas na faixa dos 70 anos, que se arriscam nos desafios de
versos cantados. “Há uma dominação masculina e violência simbólica dentro do
desafio de Cururu”, pontua Rodrigues. Para fazer parte do desafio de Cururu,
acredita-se no recebimento de um “Dom Divino”, uma condição para a qual os
homens estariam mais propensos. Daí a justificativa para a quase inexistência de
mulheres cururueiras.
Luiz Carlos Rodrigues possui graduação (Licenciatura
plena) em Português e Inglês pela Universidade
Anhanguera- Uniderp. É radialista há mais de 30 anos
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Rodrigues
relembrou o início dessa tradição que se deu com a Festa do Divino. Segundo o
pesquisador, o desafio de Cururu foi desenvolvido no período em que tropeiros, bandeirantes
e jesuítas percorriam a região de Sorocaba. No início, o foco dessa tradição
oral eram as mensagens religiosas mas, após a era do rádio, as rimas passaram a
incluir temas profanos e cômicos.
Esse
estudo da comunicação popular, das culturas marginalizadas, é denominado como
Folkcomunicação, o que não desperta interesse dos grupos hegemônicos e não
ganha repercussão, de acordo com Rodrigues. Colocando-se como ativista da
causa, o mestrando propôs um debate público em Sorocaba com a intenção de gerar
reconhecimento e incentivo para essa tradição regional. Isso resultou na
aprovação da lei que institui, em sessão solene, o “Dia do Cururu” no
calendário oficial do município. “Se tiver espaço para
divulgação, possivelmente mais pessoas vão conhecê-lo. Pode ser que mulheres e
homens venham cantar os desafios de Cururu na nossa cidade. Quem sabe isso também
não reverbera em outras culturas”.
Ticket ‘conservador
liberal’
A
segunda pesquisa apresentada no encontro do MidCid teve como tema “O ticket
conservador liberal nas representações simbólicas do passado”. Roldão Pires,
professor de história, foca seus estudos no grupo Brasil Paralelo, um site cujos
responsáveis o definem como mídia independente de produções audiovisuais. Para
desenvolver suas reflexões, Pires tem como recorte a série “Brasil - A última
Cruzada”, em que o grupo Brasil Paralelo se coloca como encarregado de contar
“a verdadeira história do Brasil”.
Nas
estruturas das narrativas da série, Pires aponta problemas históricos
conceituais, além de mostrar, a partir da análise do discurso, como o grupo
tenta vender blocos de ideias do que vem sendo chamado no Brasil de
conservadorismo liberal. Pires diz identificar um discurso que procura criar
inimigos através do ódio e do medo (de todo e qualquer movimento relacionado à
esquerda) e a deslegitimação dos direitos sociais, assim como a venda de alguns
conceitos econômicos neoliberais. O racismo, a escravidão dos negros e a CLT
(Consolidação das Leis Trabalhistas) são exemplos de temas que aparecem nesse
debate.
Com
objetivo de ilustrar seus argumentos, o mestrando exibiu um trecho da série em
que se discute a escravidão. Para ele, o grupo, a partir de seus entrevistados,
apaga a importância da escravidão no contexto histórico-brasileiro até mesmo
numa perspectiva econômica, apaga-se a resistência do negro e tenta-se
desvincular o racismo no Brasil da escravidão. Em alguma medida, para o
pesquisador, o ponto de apoio para esse processo de convencimento do público é
a ignorância da história. “Essa parte da história é apresentada como se fosse
algo mais brando, colocando abstrações no discurso. Quem conhece pouco sobre a
história vai comprando a ideia. Eles vão agindo nas lacunas do conhecimento.”
MidCid em 2018
Esse
encontro do MidCid encerrou o ciclo de discussões “A Cidade depois do Fim do
Mundo” que foi tema das atividades de 2018. As reuniões do grupo retornam em
março, com uma nova proposta de reflexão sobre o urbano e as práticas
comunicacionais e culturais.
Desejamos
boas festas a todos!
Texto e fotos: Jennifer Lucchesi
Revisado por: Mara Rovida
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