Influência do algoritmo no consumo e na publicidade é tema do encontro dos Grupos de Pesquisa

em quinta-feira, 16 de maio de 2019



Em outros momentos, o Pesquisador de pós-doutorado em Comunicação e Cultura na Uniso, Julio Cesar Lemes de Castro, já falou sobre as caraterísticas gerais dos algoritmos e as suas implicações em termos de notícia

Na reunião de 13 de maio, segunda-feira, os grupos de pesquisa MidCid e MidCon contaram com a participação do professor doutor Julio Cesar Lemes de Castro, pesquisador de pós-doutorado junto ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da Uniso. Com a palestra “Publicidade contemporânea e a interpelação algorítmica do consumidor”, Castro compartilhou alguns dos resultados da sua pesquisa atual, que tem como tema geral a governança algorítmica.

Segundo Castro, os algoritmos vêm ganhando força em nossa época e estão presentes em várias áreas da vida social, ainda mais com a evolução das tecnologias e da web. Devido à relevância do tema, o pesquisador já discorreu, em outras reuniões, sobre as caraterísticas gerais dos algoritmos e as suas implicações em termos de notícia. A fim de complementar a discussão, neste último encontro dos grupos de pesquisa, o foco foi nas implicações dos algoritmos no consumo, na publicidade e no marketing digital.

Para explorar o assunto nessa linha, o professor usa um conceito retirado da filosofia, o de interpelação. No termo original, a interpelação tem sentido de subjetivação, uma forma pela qual os sujeitos internalizam concepções. Por conta disso, Castro acredita ser um entendimento interessante para lidar com a abordagem do consumidor e da publicidade, adaptando seu significado com objetivo de dar conta das especificidades dos algoritmos.

Na interpelação algorítmica do consumidor, Castro pontua cinco características. Ele ressalta, no entanto, que todas as propriedades exploram tendências que já estavam presentes em momentos anteriores da história.

Mensurabilidade:

A primeira citada é a mensurabilidade, o que significa o rastreamento de dados do consumidor através das plataformas algorítmicas. Em outras palavras, é a mensuração de características e atributos do consumidor e a transformação disso em dados.

Castro é graduado em Jornalismo pela Escola de Comunicações e
 Artes da USP, com mestrado e doutorado em Comunicação e
Semiótica na PUC-SP. Possui pós-doutorado em Psicologia Social
no Instituto de Psicologia da USP e pós-doutorado
em Comunicação e Cultura na Escola de Comunicação da UFRJ
Para o professor, plataformas algorítmicas são as redes sociais; os mecanismos de busca; o comércio eletrônico; serviços de streaming (Netflix, Spotify...); a Internet das Coisas (como pulseiras que captam dados sobre atividades físicas dos usuários); e os serviços de compartilhamento (exemplo, Uber). São mecanismos de rastreamento (sejam ações ou reações dos usuários) atualizados constantemente, que se dão por meio de cadastros para a compra de produtos, ou de atividades realizadas por meio das redes sociais a partir de curtidas, compartilhamentos, entre outros. “Tudo isso configura o usuário como consumidor. Seja porque ele está comprando coisas, serviços, seja porque ele está em uma posição de consumidor de anúncios, portanto, um consumidor potencial”, explica Castro. Segundo diz, o modelo de comércio eletrônico e a publicidade online incentivam as empresas dessas plataformas a rastrear os dados, na medida em que quanto mais são obtidos, maior a precisão dos apelos de venda. Além disso, quando diferentes dados são combinados é possível detectar padrões de consumo.

Castro lembra que, no início do século XX, a publicidade começa a desenvolver pesquisas para traçar o perfil dos consumidores. Em geral, são pesquisas demográficas (de gênero, idade, etnia etc.) que servem de dados para orientar as publicidades. A partir da mensurabilidade torna-se possível traçar retratos mais preciso dos consumidores.

Recursividade

O segundo ponto é a recursividade, a ideia de feedback. Ou seja, aquilo que vem para o usuário (em forma de conteúdo, oferta e anúncio) é resultado daquilo que é fornecido pelo próprio consumidor. Um exemplo é quando na hora de se comprar um livro aparece a informação “quem comprou esse livro também se interessou por aquele outro”, com sugestões baseadas nas mercadorias visualizadas ou adquiridas anteriormente.

Nesta característica, há uma correção contínua para aperfeiçoar os próximos anúncios para outros usuários, tendo um grau de eficiência maior.

Segundo Castro, a interpelação algorítmica do consumidor
apresenta cinco características, a saber: mensurabilidade,
recursividade, perfilamento, ubiquidade e clusterização

No entanto, há algumas limitações na recursividade garantida pelos algoritmos. Entre os exemplos citados, estão o fato de o usuário ficar preso em um determinado universo de conteúdo. Ou seja, há dificuldade em oferecer novos produtos quando as pessoas estão consumindo aqueles que os próprios algoritmos induzem e prendem as pessoas. Além disso, por mais que se acumulem dados, nem sempre a customização é eficiente e se traduz em uma interpelação. “Esses dias vi numa rede social alguém reclamando que tinha comprado uma sandália e, logo em seguida, começou a receber um monte de anúncio de sandália. Isso não tem lógica. Se acabou de comprar uma sandália, não está mais interessado”, exemplifica Castro sobre as disparidades, quando um anúncio não coincide com os interesses do usuário.

Ubiquidade

A terceira característica é a ubiquidade. Como as plataformas tendem a variar seus dispositivos e mecanismos, o apelo de consumo alcança o usuário de várias formas. A interpelação algorítmica tende a se espalhar, cercar o consumidor pelo celular, por dispositivos acoplados, dispositivos da casa etc. A partir disso, as corporações vão reunindo/rastreando esses dados obtidos de diversas fontes, customizando e aperfeiçoando essa interpelação.

Perfilamento

O penúltimo aspecto é o perfilamento, a criação de perfis. O que a interpelação algorítmica faz é interpelar o sujeito em um perfil, como fragmento, visto que os dados captados de forma fragmentada (isto é, interessam-se somente algumas informações e não todas de cada sujeito) são combinados. O perfil é, então, o recorte de alguns dados específicos da pessoa. Assim, para cada usuário há vários perfis dinâmicos, que se modificam o tempo todo de acordo com seus interesses e atividades.

Clusterização

A última característica é a clusterização, agrupamento dos perfis. Nos algoritmos têm a formação de clusters, que são combinações de perfis/recortes de vários usuários. O professor Castro comenta que antes vinha usando o termo nichificação, tentando encontrar uma palavra mais adequada ao português para clusters. Mas, para ele, o problema é que nicho e segmento têm uma tradição no consumo de serem associados a conjuntos mais fixos, enquanto clusters, que é usado na linguagem da informática, capta o lado mais dinâmico dos recortes parciais.

Na palestra, Castro também falou sobre uma certa convergência que surge entre a interpelação algorítmica em termos de consumo (acúmulo de dados por parte de empresas privadas) e os dispositivos de controle social. Um exemplo é a prática das agências de segurança de utilizarem não apenas seus próprios dados, mas também informações de corporações privadas, gerando um grande banco de dados de cada cidadão.




Para informações mais detalhadas da pesquisa de pós-doutorado do professor Castro, pode-se consultar os seguintes artigos:

O consumo na era da interpelação algorítmica, apresentado no Intercom, em setembro de 2018: http://portalintercom.org.br/anais/nacional2018/resumos/R13-1148-1.pdf

Interpelação, Perfilamento e Performatividade em plataformas algorítmicas, apresentado na Compós, em junho de 2018:


Texto e fotos: Jennifer Lucchesi
Revisado por: Mara Rovida

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