Pensar a comunicação no contexto das
mídias alternativas contemporâneas foi a proposta dos grupos de pesquisa MidCid
e MidCon no colóquio que encerrou as discussões acadêmicas do primeiro semestre
de 2019, realizado no dia 03 de junho. A reunião contou com a participação da
professora doutora Marcia Eliane Rosa, do Mestrado em Linguagens, Mídia e Arte
da PUC-Campinas, e do professor doutor Benedito Aparecido Cirino, da
Universidade de Sorocaba.
Com o objetivo de refletir sobre os
estudos do processo comunicacional contemporâneo, a pesquisadora Marcia Eliane
Rosa diz ser necessário entender alguns pontos. O primeiro é que, nos dias de
hoje, a comunicação se tornou mais fluída e orgânica por conta da existência de
redes digitais. Depois, é preciso compreender que há um processo de construção
e reconstrução da informação, além de ser importante perceber as relações da
informação como conhecimento, desinformação e comunicação.
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Marcia Eliane Rosa é pós-doutora em Comunicação,
doutora em Ciências da Comunicação, mestre em
Comunicação e Mercado e Graduada em Comunicação
Social- Jornalismo
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Segundo a professora, recorrer à
história auxilia no entendimento de como a comunicação acontece atualmente, ou
seja, de forma não linear. Por isso, ela relembra a teoria tecno-comunicação,
em que se trabalhava apenas com a noção emissor-receptor; a teoria
funcionalista, com o modelo proposto por Harold Lasswell, em que um ato
comunicacional consiste em responder “quem? diz o quê? em qual canal? para
quem? com qual efeito?”; até chegar na abordagem estruturalista, com a
materialidade do texto-imagem, e nas mudanças propiciadas pela comunicação em
rede, em que todos podem, simultaneamente, produzir, emitir e consumir uma
informação. Entre as transformações que ocorreram, hoje também precisa
considerar que a mídia não mais influencia, mas possibilita a arquitetura e a
construção do fluxo informacional.
Rosa chama atenção, ainda, para o fato de
as redes propiciarem a falta de referência, a desorientação e, inclusive, a
desinformação. Não há mais um parâmetro: “Não se sabe mais o que é certo ou
errado, o que é ético ou não ético”, enfatiza.
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Bruno Henrique Batista Teixeira é mestrando em Linguagens, Mídia e Arte pela PUC-Campinas, com graduação em Jornalismo |
Ao complementar a apresentação da
professora, o mestrando Bruno Henrique Batista Teixeira, orientando de
Rosa, abordou sobre três atores que atuam na internet e nas redes sociais com
potencial de interferir no processo comunicacional. O primeiro é a multidão de
anônimos, em que qualquer um pode emitir, receber, compartilhar e resignificar uma
mensagem, por exemplo. O segundo são os líderes de opinião, que podem ser
caracterizados tanto como laços fortes quanto laços fracos. Os laços fortes são
aqueles construídos a partir de um vínculo direto, isto é, por conhecer
determinada pessoa (família, amigos), ela influencia na formação de opinião da
outra. Por sua vez, os laços fracos se dão por meio de uma relação mediada, a
partir de influenciadores digitais e comunicadores institucionalizados, por
exemplo. Já o terceiro ator é formado pela comunidade virtual/organizada, como
é o caso de grupos que defendem uma determinada bandeira, exemplo o Movimento Brasil
Livre (MBL). Essas observações fazem parte de um artigo que Rosa e Teixeira
escreveram sobre A comunicação das redes – Um estudo do caso Marielle Franco,
em que eles propõem ver como acontece a construção e reconstrução das mensagens
veiculadas pela mídia a partir de narrativas a respeito da morte da vereadora
do Rio de Janeiro.
Já o professor Benedito Aparecido Cirino
iniciou suas falas se amparando no campo da filosofia para se chegar à
comunicação na atualidade. Ele aponta para a instabilidade da dinâmica da vida
e na impossibilidade de se conhecer o mundo por completo.
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Benedito Aparecido Cirino é doutor em Educação, com mestrado em Ética e graduação em Filosofia |
Neste contexto, o conhecimento,
entendido como fenômenos (ou seja, a manifestação das coisas), é complexo e se
altera o tempo inteiro. No entanto, não compreender como se dá essa construção
do conhecimento traz consequências para a sociedade. Ou seja, tornam-se
possíveis interferências na condução desta, influenciando comportamentos e
atitudes da população em pró daquilo que grandes grupos econômicos desejam. O
professor exemplifica a questão com as mídias digitais: “O Facebook é um lugar
onde seres humanos deram seus dados para serem controlados a partir dessa
complexa construção do conhecimento”, explica. O compartilhamento de conteúdo
sem criticidade, e sem ao menos entender o teor da mensagem, alimentaria esse
sistema.
Ao encerrar a reunião, o professor traz,
ainda, uma provocação sobre as fake news inseridas
nesse cenário. “Fake news não é algo fake, porque ele muda a realidade, ganha
eleições. Às vezes, ele tem um potencial maior de intervenção da realidade do
que aquilo que é considerado verdadeiro. Mas por que é possível fazer isso?
Porque as pessoas não têm condição de estudar o conteúdo das mensagens que
recebem”, salienta o docente, reconhecendo a existência de diversas ferramentas
tecnológicas mas, por outro lado, uma ausência de consciência de como lidar com
elas.
Texto: Jennifer Lucchesi
Revisado por: Mara Rovida
Fotos: Jennifer Lucchesi e Felipe Parra
Outras fotos do encontro:
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