“[...]
Não perca o sono. O processo de aprendizagem é lento e é preciso paciência. Mas
nada pode deter os diagramas mentais que vão se formando em nossas cabeças. O
que se deve evitar é a ansiedade. Brinque um pouco com esses diagramas que a
gente costuma chamar de ideias.” Assim iniciou a conversa de Maria Lucia
Santaella com alunos de graduação, mestrado, doutorado e com
professores-pesquisadores na quinta-feira, 22 de agosto, na Universidade de
Sorocaba, compartilhando partes de uma mensagem enviada digitalmente. Apesar das
aspas remeterem a uma resposta de e-mail de Santaella a um aluno de doutorado, esse
é o testemunho de uma situação cotidiana que faz parte da vida de um
pesquisador. Uma vida que não é muito formal, mas marcada por dúvidas, buscas e
encantamentos.
Santaella
foi a convidada do Programa de Pós-graduação em Comunicação e Cultura da Uniso para
ministrar a aula Magna, momento que assinala o início das atividades
acadêmicas do segundo semestre de 2019 e marca a recente abertura do doutorado
no programa. O evento contou com a presença do reitor, professor doutor Rogério
Augusto Profeta, e do Pró-reitor de Pós-graduação, Pesquisa, Extensão e Inovação, professor doutor José Martins de Oliveira Junior, que reforçaram a importância
do investimento nacional em educação e apontaram para a consolidação e
crescimento do programa sob a coordenação da professora doutora Maria Ogécia
Drigo.
“Costumo dizer que a inteligência e o conhecimento são como a vida: não podem parar de crescer” |
A
escolha de Santaella não foi por acaso. Além de ser referência em estudos
comunicacionais, sobretudo na semiótica e filosofia de Peirce (1839-1914), ela
acompanhou de perto o percurso do Programa de Pós-graduação em Comunicação e
Cultura: em 2006, fez a primeira
palestra na Uniso no momento em que o mestrado era aprovado pelo MEC; palestrou
no primeiro Encontro de Pesquisadores em Comunicação e Cultura (evento
promovido anualmente pelo programa) e participou das primeiras bancas de
defesa, assim como em 2013 aceitou compor a comissão editorial da
recém-inaugurada revista Tríade, publicando, inclusive, na primeira edição do
periódico, antes mesmo de ele receber QUALIS Capes. Essa memória foi resgatada nas
falas da professora doutora Luciana Coutinho que apresentou a palestrante.
Professora titular no programa de Pós- Graduação em Comunicação e Semiótica da PUCSP, Santaella é referência consolidada em estudos comunicacionais |
Do
extenso currículo lattes, algumas informações da pesquisadora e professora
titular no programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica da PUCSP se
destacam: já orientou 260 mestres e doutores de 1978 até o momento;
supervisionou seis pós-doutorados; recebeu o prêmio Jabuti nos anos de 2002,
2009, 2011 e 2014; o Prêmio Sergio Motta, Liber, em Arte e Tecnologia, em 2005
e o prêmio Luiz Beltrão-maturidade acadêmica, em 2010. Santaella conta também
com 50 livros publicados, 20 obras organizadas e mais de 400 artigos
científicos divulgados em periódicos no Brasil e no Exterior. Suas áreas de
atuação mais recentes envolvem: Comunicação, Semiótica Cognitiva e
Computacional, Inteligência Artificial, Estéticas Tecnológicas e Filosofia e
Metodologia da Ciência.
A pesquisa como modo de vida
Na
aula Magna que teve como tema A pesquisa
como modo de vida, Santaella frisou a paixão que move o pesquisador. Para
ela, somente esse sentimento pelo conhecimento é capaz de explicar a docilidade
do pesquisador aos rigores da ciência, principalmente aos rigores do método.
Concentração,
vocação, curiosidade, capacidade reflexiva, isolamento disciplinar e uma
auto-cobrança também são características daqueles com perfil de pesquisador,
daqueles que, de acordo com Santaella, “são mordidos pela sede de aprender e são
tocados pela ética da curiosidade”. Na construção de uma vida dedicada à ciência,
a pesquisadora ressaltou a importância do papel assumido pelos professores: de
serem fontes de inspiração e com capacidade de guiarem os alunos pelos caminhos
desconhecidos.
Segundo
Santaella, a ciência é uma área em contínuo desenvolvimento, que
não se satisfaz com fórmulas fixas ou crenças limitadas, pelo contrário,
pressiona a verdade real da natureza. Para ela, pesquisa é o modo próprio que a
ciência tem para gerar consciência do mundo, e o conhecimento só continua
crescendo na medida em que as pesquisas são incessantemente realizadas.
“Costumo dizer que a inteligência e o conhecimento são como a vida: não podem
parar de crescer”.
Pesquisa exige
atualização, registros e o direito à liberdade, explica a professora. Atualização
porque o mundo vive recorrentes transformações. Registros (publicação de teses,
dissertações, livros e artigos) servem como formas de socialização e coletivização do conhecimento gerado pela pesquisa. E a
liberdade é no sentido de ser movido pelo desejo de investigar aquilo que
instiga, de se libertar do conforto das crenças e de se colocar numa abertura
de escuta cuidadosa àquilo que é contraditório. “Há sempre uma espécie
de paixão que move a pesquisa [...]. E a pesquisa
é uma das maneiras mais relevantes de deixarmos nossas marcas no mundo, porque
ela é objetivação da nossa subjetividade. E por ser objetivação, ela é por
natureza coletiva. Algo que entregamos ao outro e ao mundo”.
No
evento, Santaella falou, ainda, sobre a importância de se cultivar os afetos e,
recorrendo a Foucault, de se dedicar ao cuidado do crescimento interior. “A
vida passa e o que ficam são os afetos e as gratificações pelas escolhas que
fizemos, mantidas graças a persistência do desejo. Esse é um recado que estou
dando sobre o modo de vida”.
Entre os
pesquisadores renomados que Santaella utilizou como referências durante sua
apresentação encontram-se Gilles Deleuze (1925-1995), Charles
Sanders Peirce (1839-1914), Antonio
Gramsci (1891-1937), Michel Foucault (1926-1984) e Giorgio Agamben (1942 - ).
Confira outras fotos do evento:
Texto de: Jennifer Lucchesi
Revisado por: Mara Rovida
Fotos de: Paulo Marquêz e Jennifer Lucchesi
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