O que sabemos sobre o efeito das temperaturas no corona vírus? As diretrizes do IPCC nos ensinam a valorizar a ciência do corona vírus

em quarta-feira, 24 de junho de 2020


foto Arturo Blasco agosto 2020



Sergi González Herrero
CIÊNCIAS DA TERRA E DO ESPAÇO
22/05/2020

Estou escrevendo este artigo em maio de 2020, no início da escalada da pandemia na Catalunha. Por que começo com essa frase? Então, porque o ímpeto que a ciência tomou para tentar entender como esta epidemia global está se comportando é muito importante, o que faz o conhecimento se mover muito rapidamente. Espero, portanto, que as linhas que escrevo aqui estejam desatualizadas em pouco tempo, pelo menos no que diz respeito ao conhecimento científico que temos. Mas não quanto à filosofia expressa nos parágrafos seguintes, que visam avaliar a ciência como ela é, com suas incertezas iniciais até que as evidências sejam robustas.

Nos últimos meses, um grande número de estudos surgiu descrevendo a possível influência das temperaturas na propagação do corona vírus (por exemplo, Wang et al. 2020, Araujo e Naimi 2020, Tobias e Molina 2020) e a possível ausência de influência. (por exemplo, Juni et al. 2020, Jamil et al. 2020). A cobertura da mídia desses estudos opostos apenas confunde o cidadão e, no último caso, pode perder a credibilidade do cidadão na ciência. Muitas pessoas continuam se perguntando, como as temperaturas influenciam a propagação do corona vírus? Seremos capazes de relaxar quando o verão chegar?

Para abordar essa questão, sou a favor de usar o método de incerteza usado pelo Grupo Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês), talvez um dos maiores documentos científicos da história e, portanto, impecável. no que diz respeito à utilização do método científico. Para avaliar a confiança de uma descoberta no IPCC, são avaliados o grau de concordância e a robustez das evidências. A confiança aumenta se o grau de concordância for alto e se a evidência científica for robusta, ou seja, se houver diferentes linhas de evidência independentes, consistentes e múltiplas (Mastrandrea et al. 2010). A figura a seguir mostra esquematicamente:

Esquema de evidência e concordância em relação à confiança. Como a escala de cinza sugere, a confiança aumenta no canto superior direito. Fonte: Mastrandrea et al. 2010.

Voltando à pergunta, que nos fizemos anteriormente sobre a influência das temperaturas no corona vírus, direi que os estudos científicos publicados nos mostram diferentes linhas de evidência com resultados contraditórios, ou seja, uma robustez muito baixa e também um grau de acordo muito baixo. Portanto, seguindo as diretrizes do IPCC, a confiança na relação entre temperatura e grau de infecção por corona vírus é muito baixa. E isso não significa que exista uma influência ou que deixe de existir. Tampouco significa que as várias pesquisas não sejam bem elaboradas, embora seja verdade que algumas tenham resultados mais sólidos do que outras. O que isso significa é que o estado atual do conhecimento ou a quantidade de dados que existe no momento não é suficiente para confirmar ou negar esse fato.

É uma boa ideia publicar esses resultados rapidamente, a fim de aumentar gradualmente as evidências científicas de um lado ou de outro. Também prestar serviço científico à sociedade e na tomada de decisões. Mas precisamos interpretá-los bem e ter em mente que, para essa tomada de decisão, são necessários resultados científicos sólidos para evitar erros. Em qualquer caso, nós cientistas somos responsáveis ​​por analisar rigorosamente os dados e por avaliar as deficiências que nossa pesquisa pode ter, seja por falta de dados ou porque influências muito maiores não consideradas no estudo podem mascarar os resultados. A mídia também deve ser responsável por não mediar as análises e tratar os resultados rigorosamente, tentando não definir cada uma delas como análises conclusivas, mas como evidência que nos leva a um melhor conhecimento.

Referências
Araujo M.B., i Naimi B., 2020. Spread of SARS-CoV-2 Coronavirus likely to be constrained by climate. medRxiv 2020.03.12.20034728; doi: https://doi.org/10.1101/2020.03.12.20034728
Jüni, P., Rothenbühler, M., Bobos, P., Thorpe, K.E., Da Costa, B.R., Fisman, D.N., Slutsky, A.S., i Gesink, D, 2020. Impact of climate and public health interventions on the COVID-19 pandemic: A prospective cohort study. cmaj.200920: https://doi.org/10.1503/cmaj.200920
Mastrandrea, M.D., C.B. Field, T.F. Stocker, O. Edenhofer, K.L. Ebi, D.J. Frame, H. Held, E. Kriegler, K.J. Mach, P.R. Matschoss, G.-K. Plattner, G.W. Yohe, i F.W. Zwiers, 2010: Guidance Note for Lead Authors of the IPCC Fifth Assessment Report on Consistent Treatment of Uncertainties. Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC). Disponible a: https://www.ipcc.ch/site/assets/uploads/2017/08/AR5_Uncertainty_Guidance_Note.pdf
Tahira Jamil, Intikhab Syed Alam, Takashi Gojobori, Carlos Duarte, 2020. No Evidence for Temperature-Dependence of the COVID-19 Epidemic. medRxiv 2020.03.29.20046706; doi: https://doi.org/10.1101/2020.03.29.20046706
Tobías, A., Molina, T., 2020. Is temperature reducing the transmission of COVID-19 ?, 2020. Environ Res. 2020;186:109553. doi: https://10.1016/j.envres.2020.109553
Wang, J., Tang, K., Feng, K. i Lv, W., 2020. High Temperature and High Humidity Reduce the Transmission of COVID-19 (March 9, 2020). Disponible a SSRN: https://ssrn.com/abstract=3551767 o http://dx.doi.org/10.2139/ssrn.3551767

traduzido por paulo celso da silva da Enciclopédia Catalana
a versão original em catalão pode ser consultada em :

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