foto Arturo Blasco agosto 2020
Sergi
González Herrero
CIÊNCIAS DA
TERRA E DO ESPAÇO
22/05/2020
Estou
escrevendo este artigo em maio de 2020, no início da escalada da pandemia na
Catalunha. Por que começo com essa frase? Então, porque o ímpeto que a ciência
tomou para tentar entender como esta epidemia global está se comportando é
muito importante, o que faz o conhecimento se mover muito rapidamente. Espero,
portanto, que as linhas que escrevo aqui estejam desatualizadas em pouco tempo,
pelo menos no que diz respeito ao conhecimento científico que temos. Mas não
quanto à filosofia expressa nos parágrafos seguintes, que visam avaliar a ciência
como ela é, com suas incertezas iniciais até que as evidências sejam robustas.
Nos
últimos meses, um grande número de estudos surgiu descrevendo a possível
influência das temperaturas na propagação do corona vírus (por exemplo, Wang et
al. 2020, Araujo e Naimi 2020, Tobias e Molina 2020) e a possível ausência de
influência. (por exemplo, Juni et al. 2020, Jamil et al. 2020). A cobertura da
mídia desses estudos opostos apenas confunde o cidadão e, no último caso, pode
perder a credibilidade do cidadão na ciência. Muitas pessoas continuam se
perguntando, como as temperaturas influenciam a propagação do corona vírus?
Seremos capazes de relaxar quando o verão chegar?
Para
abordar essa questão, sou a favor de usar o método de incerteza usado pelo Grupo
Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês), talvez um
dos maiores documentos científicos da história e, portanto, impecável. no que
diz respeito à utilização do método científico. Para avaliar a confiança de uma
descoberta no IPCC, são avaliados o grau de concordância e a robustez das
evidências. A confiança aumenta se o grau de concordância for alto e se a
evidência científica for robusta, ou seja, se houver diferentes linhas de
evidência independentes, consistentes e múltiplas (Mastrandrea et al. 2010). A
figura a seguir mostra esquematicamente:
Esquema de evidência e concordância em relação à confiança.
Como a escala de cinza sugere, a confiança aumenta no canto superior direito.
Fonte: Mastrandrea et al. 2010.
Voltando
à pergunta, que nos fizemos anteriormente sobre a influência das temperaturas
no corona vírus, direi que os estudos científicos publicados nos mostram
diferentes linhas de evidência com resultados contraditórios, ou seja, uma robustez
muito baixa e também um grau de acordo muito baixo. Portanto, seguindo as
diretrizes do IPCC, a confiança na relação entre temperatura e grau de infecção
por corona vírus é muito baixa. E isso não significa que exista uma influência
ou que deixe de existir. Tampouco significa que as várias pesquisas não sejam
bem elaboradas, embora seja verdade que algumas tenham resultados mais sólidos
do que outras. O que isso significa é que o estado atual do conhecimento ou a
quantidade de dados que existe no momento não é suficiente para confirmar ou
negar esse fato.
É uma
boa ideia publicar esses resultados rapidamente, a fim de aumentar gradualmente
as evidências científicas de um lado ou de outro. Também prestar serviço
científico à sociedade e na tomada de decisões. Mas precisamos interpretá-los
bem e ter em mente que, para essa tomada de decisão, são necessários resultados
científicos sólidos para evitar erros. Em qualquer caso, nós cientistas somos
responsáveis por analisar rigorosamente os dados e por avaliar as
deficiências que nossa pesquisa pode ter, seja por falta de dados ou porque
influências muito maiores não consideradas no estudo podem mascarar os
resultados. A mídia também deve ser responsável por não mediar as análises e
tratar os resultados rigorosamente, tentando não definir cada uma delas como
análises conclusivas, mas como evidência que nos leva a um melhor conhecimento.
Referências
Araujo M.B., i Naimi B.,
2020. Spread of SARS-CoV-2 Coronavirus likely to be constrained by
climate. medRxiv 2020.03.12.20034728; doi: https://doi.org/10.1101/2020.03.12.20034728
Jüni, P., Rothenbühler, M.,
Bobos, P., Thorpe, K.E., Da Costa, B.R., Fisman, D.N., Slutsky, A.S., i Gesink,
D, 2020. Impact of climate and public health interventions on the
COVID-19 pandemic: A prospective cohort study. cmaj.200920: https://doi.org/10.1503/cmaj.200920
Mastrandrea, M.D., C.B. Field,
T.F. Stocker, O. Edenhofer, K.L. Ebi, D.J. Frame, H. Held, E. Kriegler, K.J.
Mach, P.R. Matschoss, G.-K. Plattner, G.W. Yohe, i F.W. Zwiers, 2010: Guidance
Note for Lead Authors of the IPCC Fifth Assessment Report on Consistent
Treatment of Uncertainties. Intergovernmental Panel on Climate Change
(IPCC). Disponible a: https://www.ipcc.ch/site/assets/uploads/2017/08/AR5_Uncertainty_Guidance_Note.pdf
Tahira Jamil, Intikhab
Syed Alam, Takashi Gojobori, Carlos Duarte,
2020. No Evidence for Temperature-Dependence of the COVID-19 Epidemic.
medRxiv 2020.03.29.20046706; doi: https://doi.org/10.1101/2020.03.29.20046706
Tobías, A., Molina, T., 2020. Is
temperature reducing the transmission of COVID-19 ?, 2020. Environ Res. 2020;186:109553.
doi: https://10.1016/j.envres.2020.109553
Wang, J., Tang, K., Feng, K. i
Lv, W., 2020. High Temperature and High Humidity Reduce the
Transmission of COVID-19 (March 9, 2020). Disponible a SSRN: https://ssrn.com/abstract=3551767 o http://dx.doi.org/10.2139/ssrn.3551767
traduzido por paulo
celso da silva da Enciclopédia Catalana
a versão original em catalão pode ser consultada em
:
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