POSNORMALES: PENSAMENTO CONTEMPORANEO EM TIEMPOS DE PANDEMIAS NOTAS INTRODUTÓRIAS

em segunda-feira, 22 de junho de 2020




Os horizontes civilizantes disponíveis são vastas litanias de medicalização, tecnologia e modelos de guerra contra os vivos. Os Estados se debatem em diferentes estratégias de gerenciamento de máquinas de super-humanização que chia - oxidada, mas não obsoletas – ao ritmo de apropriação, extração e a produção. Máquinas que funcionam na medida do possível em que não são percebidas como tal, pela arte dos descarados e suas parábolas sobre a necessidade e a normalidade. Quem é o soberano das democracias contemporâneas? Como se resolve a controvérsia entre  saúde vs. economia? Que imagens do ser humano produzem essas máquinas discursivas?

Não há migalhas de pão que nos levem de volta à caverna para sentirmos segurxs entre suas sombras. É o nosso próprio habitat que nos sitia e nós revela como uma ameaça. O desejo de retorno a uma vida passada - montada sobre efeitos analógicos, presenciais, tridimensionais - persiste sobre a imagem fragmentária de um espelho quebrado e seu efeito de verdade sobre o real. Por acaso, as telas são a zona erógena da memória? Quais (ou quem) são as capturas da tela? Existe normalidade em algum extremo cardinal do tempo? É um estado ao qual deveríamos querer retornar ou chegar? Um feed de perguntas nos bloqueia.

Nós já aprendemos ou deveríamos ter feito: não se supõe que daremos ao futuro uma forma suportável, pelo contrário, é essencial ser hospitaleirxs com o andarilho absoluto - a singularidade que é revelada com o COVID-19 - hospedar o anfitrião e assumir plenamente as condições de possibilidade de sua existência; isto é, assumir a dimensão histórica e antropológica do vírus e, portanto, nossa responsabilidade ética no atendimento à comunidade. Assim como não devemos ver o animal (essa alteridade) como uma mancha de Rorschach - na qual nos projetarmos - não deveríamos conceber o vírus como um agente autônomo capaz de chegar e transmitir-se mais além de nossas ações.

Posnormales reúne trabalhos transdisciplinares que tratam de pensar o campo da política (público e estatal, coletiva e antagônica), com base em um slogan que propõe maneiras de sobrepor-se e adaptar-se ativamente aos cenários traumáticos - morte e isolamento - aos quais nos mostra o estado de pandemia e as lógicas de imunização neoliberais / neo-individuais.

Depois de Sopa de Wuhan y La Fiebre, aparece este livro para pensar no que está por vir. Ainda é urgente perfurar os discursos da ordem estabelecida, pois temos apenas algumas poucas previsões, escritas com gramáticas do passado. Gramáticas que, como toda linguagem, são em si mesmas um contrato (uma textualidade performática) e, como tal, devem ser revisadas para agenciar outras que sejam capazes  de interromper as figuras totalizantes e suas ficções reguladoras.

Esta terceira edição, exposta a leituras imprevistas de um público sem fronteiras, apoia nosso compromisso: Enquanto o confinamento persistir, a ASPO continuará a publicar.

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