E se tivéssemos começado antes de começar?

em terça-feira, 25 de agosto de 2020

 

E se tivéssemos começado antes de começar?


Quase 20 anos atrás, estávamos cursando o doutorado na Universidade Autônoma de Barcelona. Embora Zoom, WhatsApp, iPhone ou Facebook não existissem, o conhecimento já era distribuído por circuitos digitais. Manuel Castells já havia escrito sua famosa trilogia na Sociedade em Rede. As bibliotecas eram digitais e cada vez mais os documentos científicos eram socializados por meio de e-mails e chats. Porém, naquela época, toda vez que o tempo ficava ruim, era comum a universidade nos avisar que as aulas e qualquer outra atividade no campus estavam suspensas e que era preciso voltar para casa. A Internet era diferente de hoje, mas em sua essência já oferecia uma grande quantidade de serviços que estão disponíveis hoje. Se pensarmos bem, não atinha sentido suspender aulas sabendo que existia um estoque digital infinito de conhecimento que poderia ser utilizado para promover a reflexão, a formação, o intercâmbio e a discussão científica.

20 anos depois, temos uma rede digital mais sofisticada (e uma série de distratores também). Muitas universidades continuam incapazes de se adaptar às restrições impostas pelas atuais condições sanitárias para o ensino à distância. Quais foram as oportunidades perdidas nessas duas décadas? Quais ações terão que ser tomadas para que esse atraso não segure?

Pensar a universidade ibero-americana como um todo é um exercício intelectual difícil e arriscado. Colaboramos com muitas delas e cada um tem uma cultura organizacional diferente, com múltiplas visões, estilos de gestão, orçamentos, perfis docentes  e sobretudo origem e destino dos seus alunos. Quando questionamos algumas práticas ou sugerimos propostas de inovação, é impossível unificar critérios entre universidades públicas e massivas, privadas e menores, nacionais ou regionais, com acesso gratuito ou com alto preço de mensalidade. Dentro dessas particularidades, este ensaio sugere uma visão comum de transformação, a partir da experiência de aprendizagem remota emergencial vivida com a crise da pandemia COVID-19. Como as universidades devem ressignificar sua relação com a educação a distância? Gostaríamos de desaprender a ter um único aparência e perspectiva[1] . Propusemo-nos a pensar em alguns percursos de navegação possíveis através de situações e práticas específicas, de olho na reabertura dos campi. Tudo isso sem cair no solucionismo tecnológico de acreditar que a adoção de tecnologias educacionais para melhorar os processos pedagógicos é sempre positiva, ao passo que ser apenas crítico dessa adoção é sempre prejudicial.

Na pandemia, a prioridade das universidades tem sido se adequar à situação de crise, garantindo pequenos sucessos de aprendizagem permanente e sendo empática com a realidade socioemocional de suas comunidades. Este texto nos leva a refletir sobre o valor da experiência de aprendizagem presencial. Uma reflexão que capitaliza o que descobrimos em experiências remotas e que nos leva a integrar o melhor dos dois mundos.

Várias questões ficam de fora desta análise: inovação em estratégias de pesquisa e divulgação científica, universidade e cidadania digital, transferência de conhecimento, educação continuada, desburocratização, financiamento, internacionalização, responsabilidade social, entre muitos outros problemas. Só ousamos fazer uma abordagem pós-pandemia limitada. Cada metodologia de aprendizagem ineficaz, monológica e enfadonha, com baixa interação com o aluno e centrada no professor, esconde um grande desafio de redesenho. A pandemia será o ponto de viragem que normaliza a integração de ferramentas digitais e melhora o processo de aprendizagem? Será necessário mover remotamente todos processos que feitos em um espaço físico não agregam valor diferencial? Agora é a hora de otimizar o aprendizado, experimentar um campus híbrido e expandir a universidade.

 

Hugo y Cristóbal.

Mayo 2020.

Desde nossos próprios confinamentos em Cadaqués e em Washington D.C.

O livro pode ser baixado gratuitamente em 

https://outliersschool.net/la-universidadpostpandemia-pardo-kuklinski-cobo/ 

traduzido por paulo celso da silva  e divulgado com autorização do autor 



[1] Estamos culturalmente configurados para ter uma visão única e devemos ter uma leitura tripla permanente: tese, antítese e sobretudo síntese. Assim, levamos em consideração a heterodoxia, os pontos de vista paralelos, as mentes possíveis ”. Alejandro Piscitelli, em Protopia. Os podcasts da Outliers School. Ideias para desaprender em torno da cultura, comunicação e educação digital. Capítulo 10. 2019. *

Nenhum comentário:

Postar um comentário



Topo