E se tivéssemos começado antes de começar?
Quase 20 anos atrás, estávamos
cursando o doutorado na Universidade Autônoma de Barcelona. Embora Zoom,
WhatsApp, iPhone ou Facebook não existissem, o conhecimento já era distribuído
por circuitos digitais. Manuel Castells já havia escrito sua famosa trilogia na
Sociedade em Rede. As bibliotecas eram digitais e cada vez mais os documentos científicos
eram socializados por meio de e-mails e chats. Porém, naquela época, toda vez
que o tempo ficava ruim, era comum a universidade nos avisar que as aulas e
qualquer outra atividade no campus estavam suspensas e que era preciso voltar
para casa. A Internet era diferente de hoje, mas em sua essência já oferecia
uma grande quantidade de serviços que estão disponíveis hoje. Se pensarmos bem,
não atinha sentido suspender aulas sabendo que existia um estoque digital
infinito de conhecimento que poderia ser utilizado para promover a reflexão, a
formação, o intercâmbio e a discussão científica.
20 anos depois, temos uma rede
digital mais sofisticada (e uma série de distratores também). Muitas
universidades continuam incapazes de se adaptar às restrições impostas pelas
atuais condições sanitárias para o ensino à distância. Quais foram as
oportunidades perdidas nessas duas décadas? Quais ações terão que ser tomadas
para que esse atraso não segure?
Pensar a universidade
ibero-americana como um todo é um exercício intelectual difícil e arriscado. Colaboramos
com muitas delas e cada um tem uma cultura organizacional diferente, com
múltiplas visões, estilos de gestão, orçamentos, perfis docentes e sobretudo origem e destino dos seus alunos. Quando
questionamos algumas práticas ou sugerimos propostas de inovação, é impossível
unificar critérios entre universidades públicas e massivas, privadas e menores,
nacionais ou regionais, com acesso gratuito ou com alto preço de mensalidade. Dentro
dessas particularidades, este ensaio sugere uma visão comum de
transformação, a partir da experiência de aprendizagem remota emergencial
vivida com a crise da pandemia COVID-19. Como as universidades devem
ressignificar sua relação com a educação a distância? Gostaríamos de
desaprender a ter um único aparência e perspectiva[1]
. Propusemo-nos a pensar em alguns percursos de navegação possíveis através de
situações e práticas específicas, de olho na reabertura dos campi. Tudo isso
sem cair no solucionismo tecnológico de acreditar que a adoção de tecnologias
educacionais para melhorar os processos pedagógicos é sempre positiva, ao passo
que ser apenas crítico dessa adoção é sempre prejudicial.
Na pandemia, a prioridade das
universidades tem sido se adequar à situação de crise, garantindo pequenos
sucessos de aprendizagem permanente e sendo empática com a realidade
socioemocional de suas comunidades. Este texto nos leva a refletir sobre o
valor da experiência de aprendizagem presencial. Uma reflexão que capitaliza o
que descobrimos em experiências remotas e que nos leva a integrar o melhor dos
dois mundos.
Várias questões ficam de fora
desta análise: inovação em estratégias de pesquisa e divulgação científica,
universidade e cidadania digital, transferência de conhecimento, educação
continuada, desburocratização, financiamento, internacionalização,
responsabilidade social, entre muitos outros problemas. Só ousamos fazer uma
abordagem pós-pandemia limitada. Cada metodologia de aprendizagem ineficaz,
monológica e enfadonha, com baixa interação com o aluno e centrada no
professor, esconde um grande desafio de redesenho. A pandemia será o ponto de
viragem que normaliza a integração de ferramentas digitais e melhora o processo
de aprendizagem? Será necessário mover remotamente todos processos que
feitos em um espaço físico não agregam valor diferencial? Agora é a hora de
otimizar o aprendizado, experimentar um campus híbrido e expandir a
universidade.
Hugo y Cristóbal.
Mayo 2020.
Desde nossos próprios confinamentos
em Cadaqués e em Washington D.C.
O livro pode ser baixado gratuitamente em
https://outliersschool.net/la-universidadpostpandemia-pardo-kuklinski-cobo/
traduzido por paulo celso da silva e divulgado com autorização do autor
[1] Estamos
culturalmente configurados para ter uma visão única e devemos ter uma leitura
tripla permanente: tese, antítese e sobretudo síntese. Assim, levamos em
consideração a heterodoxia, os pontos de vista paralelos, as mentes possíveis
”. Alejandro Piscitelli, em Protopia. Os podcasts da Outliers School. Ideias
para desaprender em torno da cultura, comunicação e educação digital. Capítulo
10. 2019. *
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