Ilustração: Frank Pfeiffer/Pixabay
Ricardo Viscardi
UdelaR
Parte I
Tecnovírus: o contágio do governo
“Giorgio afirma que os governos usam
pretextos para estabelecer todos os estados possíveis de exceção. Não levam em
consideração que a exceção se converte, de fato, em regra, em um mundo onde interconexões técnicas
de todos os tipos (deslocamentos, transferências de vários tipos, incorporações
ou usos de substâncias, etc.) alcançam uma intensidade até então desconhecida e
que está crescendo com a população ”.
Jean-Luc Nancy.
" Exception virale "
(Resposta a Giorgio Agamben)
Antinomie 27/02/2020.
Tecnologia governamental
A pandemia de Covid-19 colocou em relevo a
reversibilidade do governo. Não apenas porque os governos nacionais desenvolveram
alternativamente, nesse contexto, recomendações ou disposições normativas, mas,
sobretudo, porque essas regulações apelam para o próprio governo da população
sobre si. Sem essa forma de governo da população em si mesma, as medidas
governamentais de ordem sanitária não seriam eficazes. A polícia não foi
concebida para verificar a maneira ou a hora em que os cidadãos lavam as mãos
ou as mantêm afastadas do sistema respiratório um do outro. Alguns governantes
apontam, inclusive de uma perspectiva macrossocial, que está fora de qualquer
alcance repressivo impedir a circulação de um grande número, que se move para
ganhar o que comer [1].
Apesar dessa repentina redistribuição de
governo, seria um erro confundir a reversão da governamentalidade com uma
democratização vertical (nem "de cima para baixo" nem "de baixo
para cima"). Com efeito, não é uma razão do Estado que renuncia a seus
poderes de coerção (legal) e coerção (física), nem de uma soberania popular que
ocuparia, de uma vez por todas, a posição que lhe corresponde por privilégios
revolucionários. Estamos, pelo contrário, diante de uma redistribuição da
governamentalidade que corresponde a uma recomposição acelerada do poder, que
abandona sem hesitação o significado tradicional de "soberania" (princípio
único e indivisível do poder), para adotar o significado hegemônico de "
tecnologia ”(uma ordem estratégica de conhecimento).
Essa redistribuição de poder não é
vertical, na orientação piramidal da democracia representativa (eleitorado
cidadão, instituições públicas, autoridades nacionais), mas horizontal, na
orientação dos nós de conhecimento das empresas (pesquisa da empresa,
"responsabilidade social corporativa", fóruns globalistas), opostos
por setores excluídos pela globalização (movimentos antiglobalização,
"explosões sociais", reagrupamento da opinião pública).
O vírus que veio do poder
A potência tecnológica não é expressa
apenas por meio de uma redistribuição da governamentalidade, mas também
condiciona a atividade das diferentes comunidades. O cálculo numérico determina
a "inteligência artificial" e se torna o veículo eficaz do
conhecimento. Ao mesmo tempo em que possibilita a “colocação em linha”
(“on-line”) das diferentes atividades intelectuais (o cálculo, a palavra, a
imagem), esse funcionalismo midiático facilita a vigilância de arquivos
pessoais e a destruição das bases de dados. Em outras palavras, a linearidade
que permite a atividade dos indivíduos "à distância" e em "tempo
real" também abre caminho para o controle da mídia ("big data") e
a vigilância por computador ("hacking").
Um certo efeito em cascata da
industrialização midiática intervém em um conjunto de campos tecnologicamente
articulados entre si. Gravitando na configuração das comunidades, a
conectividade estratégica introduz uma redundância entre as imagens e os
artefatos que as habilitam, o que afeta de forma recorrente a mesma natureza
[2]. O próprio comportamento humano nos permite entender, através de
transformações recentes, essa mutação protagonizada pela tecnologia, que interfere
com um efeito derivado no próprio habitat natural.
Apenas 31 anos atrás, Gianni Vattimo
afirmou que a tecnologia de imagem não apenas liderava a coleta e o
processamento científico de informação, mas que constituia também a forma concentrada de conhecimento
científico [3]. Em outras palavras, que o próprio da atividade científica cristalizava
nas tecnologias da informação e comunicação. Acontece até o presente, três
décadas depois, que essa afirmação é válida mesmo para o desempenho cotidiano
de cada um. Desde o transporte coletivo que "informa" em quantos
minutos o abordaremos, até o supermercado onde pagamos em um banco virtual, ou
também, o acesso antecipado ao assento numerado no cinema, qualquer atividade
comum requer admissão no rede info-com.
Ao mesmo tempo em que incentiva a
programação e o controle dos relacionamentos com nossos semelhantes, a mediação
virtual do comportamento humano também intervém em toda a atividade produtiva. Incorpora-se,
Consequentemente, o mesmo design ergonómico é incorporado na cadeia de produção
alimentar, por meio do imediatismo
telemático da comercialização e da produção auxiliada por computador. Convém
entender que essa não é uma tendência exclusivamente que vai do centro à
periferia do mercado mundial (obviamente, através das empresas transnacionais
agroalimentares), mas também se move da periferia para o centro, através de
redes de produção e comercialização desenvolvidas localmente (por exemplo, no
caso do desmatamento da Amazônia).
O gerenciamento "à distância"
mobiliza o lucro dos negócios em escala planetária, o que, por sua vez, induz a
produção intensiva de proteínas de origem animal em fazendas com nutrição
artificial e compensação farmacêutica pela superlotação animal. O fornecimento
de forragem industrial requer desmatamento ou florestamento, que empobrecem
igualmente os habitats naturais e dizimam as espécies selvagens. Esse
empobrecimento globalizado da cadeia alimentar desequilibra as cargas virais de
diferentes espécies e até induz a emigração de animais silvestres para os
centros urbanos, com a consequente transmissão patogênica ao receptor humano
(zoonose) [4].
Proclamar que o Coronavírus "é apenas
um vírus" é a leitura mais improvável da atual pandemia. Não apenas as séries de
epidemias que se espalharam desde o início dos anos 1980 manifestam, juntas, um
sinistro "ar vintage" (AIDS, Ebola, "gripe aviária" etc.),
mas também uma vez infectado o receptor humano, a mortalidade varia de acordo com a opção
pública em vigor. O tecno-poder que espalha o vírus também o transmite à
condição política que deveria combatê-lo. O coronavírus e outros patógenos que
o precederam com menos renome não são promovidos apenas pela funcionalidade que
reduz a qualidade dos processos naturais, mas uma privação concomitante
intervém, por negação social, na morte de cidadãos por falta de assistência à
saúde [5].
Inflexões tecnológicas do poder
Vale a pena listar, em perspectiva, as
características mais sugestivas da atual crise mundial da saúde:
a) Embora a pandemia revele uma certa
estrutura pública que assume responsabilidades por negligência ambiental ou
negligência sanitária (Bolsonaro, por exemplo, soma uma e outra), estabelecer
um vínculo de causa e efeito entre a intenção do governo e a eclosão viral
parece estar fora de questão, já que toda abordagem estratégica exclui a turbulência incontrolável. Trump chegou ao
ponto de acusar a China de "fabricar" a epidemia para prejudicar os
Estados Unidos, acusação assinada entre as linhas pelo agravamento sanitário de
seu país em um ano eleitoral.
b) Ao contrário do que aconteceu em catástrofes públicas anteriores e comparáveis (particularmente o desastre financeiro do “subprime” em 2008), a participação ativa dos setores majoritários foi e continuará sendo decisiva para o resultado. Esse componente estratégico da conjuntura pandêmica aponta até a importância que os contextos comunitários adquirem, por exemplo, na disciplina coletiva que intervém relativamente na contenção do contágio.
c) A tecnologia parece estar diretamente
envolvida no desenvolvimento do evento infeccioso, não apenas como paradigma
benfeitor, nem como protagonista involuntário da “má praxis” humana, mas como
vetor para a disseminação do contágio. Nesse sentido, é desenvolvido um
consenso unânime sobre o efeito da disseminação global do vírus, como consequência
do alcance planetário e maciço do transporte aéreo.
d) Além do ônus político que norteia a
saúde pública em cada país, a entidade da crise da saúde transcende as margens
ideológicas e mobiliza as especificidades de cada um (por exemplo, o teste
maciço de casos na Alemanha). Embora as medidas administrativas adotadas possam
estar sujeitas a diferentes estimativas (por exemplo, em relação à velocidade
de contenção sanitária), não surge um eixo ideológico (por exemplo, esquerda /
direita) que permita localizar, uma vez que a pandemia atual, as alternativas
de condução envolvidas.
Esse conjunto de recursos indica uma
mudança significativa no vínculo entre poder e tecnologia, inscrito em eventos
de maior significado, como tendências sustentadas do presente.
1) Os contextos de “alternância falida”
são instalados, onde um governo de um signo político é seguido por outro do
oposto, e assim por diante, até que o sistema político seja desacreditado
diante da população. Essa sequência foi vista na Europa, por alguns anos se
espalhou na América Latina, com um pico no Chile e desenvolvimentos incipientes
na Argentina, Brasil, Bolívia e Uruguai.
2) Desde 2018, diferentes contextos foram
abalados por "explosões sociais", como o efeito de uma rejeição geral
da população diante dos slogans do governo, particularmente nos países marcados
pela "alternância falida" acima mencionada (Chile, França, em outra medida,
Equador).
3) Uma chamada surge através de
"redes sociais" opostas à legitimidade institucional-representativa
(como ocorreu nas "explosões sociais" na França e no Chile). É uma
tendência que até adota diversos signos ideológicos. Com essa base midiática
autônoma, surge no Uruguai, um dos países mais profundamente enraizados do
sistema partidário, uma organização liderada por setores empresariais do campo
(Um Solo Uruguai), que por sua vez se proclama alheia ao sistema partidário.
4) Uma recomposição da hegemonia
internacional está em desenvolvimento no momento, com um declínio manifesto no
poder econômico e geopolítico dos Estados Unidos. Essas transformações
modificam o equilíbrio interno de cada país, transformam os mapas do status
quo e produzem resultados imprevistos. Destaca uma volatilidade maiúscula
dos eleitores e a desarticulação das identidades públicas tradicionais, como no
caso das eleições de Trump e Bolsonaro.
A hipótese nostálgica
Constituindo-se após a 2a
Guerra mundial na sinergia entre a tecnologia e a estratégia (dissuasão
nuclear, corrida espacial, internet), o poder levou a um "contágio do
governo", que não apenas induziu a zoonose do coronavírus (a infecção do
receptor humano), mas também o que corresponde assim mesmo a um conjunto de
transformações comunitárias. Consequentemente, propõe-se a busca de uma
orientação alternativa, tanto pelos efeitos da pandemia quanto pelas condições
de desenvolvimento que a enquadram. Essas coordenadas podem talvez ser
sintetizadas da seguinte maneira:
i) o declínio gradual, embora já
pronunciado, dos regimes de soberania institucional (fonte única e indivisível
de poder), mesmo quando sustentados em tradições democrático representativas
consolidadas.
ii) a implantação de laços políticos
através de estruturas virtuais, por parte de coletivos cada vez mais
diferenciados da governamentalidade soberana.
A partir de agora, leituras desse contexto
parecem que, diante do desamparo, proclamam a necessidade de um retorno ao
passado. Proclama-se certo retorno a uma ordem maior, que desconsidera o
destino que as iniciativas da “Nova Ordem Mundial” (da economia, da informação,
do meio ambiente) sofrem desde os anos 80 do século passado. etc.) Embora esses
anseios sejam compartilhados como projetos de justiça, vale a pena analisar seu
escopo para o presente.
Não é a primeira vez, de fato, que a
“hipótese nostálgica” do retorno a uma ordem abandonada foi proclamada em alto
e bom som. Devido ao colapso econômico internacional que se seguiu, a crise
financeira do “subprime” em 2008 é considerada o principal antecedente da
pandemia de Covid-19. Muitas vozes foram levantadas, naquela época, para
proclamar o inevitável retorno ao "estado planejador-benfeitor".
Ocorreu, no entanto, que os obituários do neoliberalismo não impediram que os mortos
enterrados desfrutassem de excelente saúde: após o desfalque financeiro, o
"representante democrático" lança mais uma vez apoio aos autores da
presa com novos fundos roubados das mesmas vítimas [6].
Mesmo aqueles que verificaram o colapso
dos sistemas de representação democrático-representativos não parecem
determinados, em todos os casos, a aceitar a inflexão que separa, em Foucault,
a biopolítica da governamentalidade [7]. Atravessar esta etapa supõe, com
efeito, aceitar que a Soberania ("herança de uma teologia pouco
secularizada" [8]) é o antecedente teológico-político do sujeito, mesmo e
particularmente, em relação à "razão do estado". Identificar a
crítica de Foucault do poder com a biopolítica (que Foucault abandonou após
apenas dois anos de trabalho) [9] conduz a uma "economia" de poder
socialmente cristalizada, que em seu sentido geral reemite um fantasma de
sujeito-soberano (inclusive e especialmente como "Multidão",
"Estado de exceção" ou "Imunidade").
Com base na reflexão de Foucault a questão
do poder se distingue da proposta do Iluminismo, que continua a constituir a
matriz da “nostalgia política”. A questão política do poder é inseparável, nas
condições atuais, da tecnologia e, portanto, do conhecimento. Longe de se
oporem a alternativas, como o Iluminismo queria e o marxismo tardio dos anos 1950 - 1970' tentou repensar, poder e
tecnologia se reforçam estrategicamente.
Tecnologia e Estratégia: a mesma rede de
energia
Em dois textos publicados entre 1981 e
1984, Foucault possibilita uma reflexão sobre poder e tecnologia. Em Omnes
et Singulatim, ele analisa a constituição do poder como "razão de
Estado". A análise exibida indica que, longe de prolongar o significado
teológico da soberania, a "razão de Estado" não corresponde mais a
uma ordem rigorosa e permanente (nem divina nem natural). Desde então, uma
“razão de estado” foi configurada, enquadrada apenas no próprio poder, bem como
nos limites que encontra no poder de outros [10].
O significado dessa afirmação de Foucault
é que ela altera a relação entre verdade e poder. Desde o ponto de vista da
"razão de Estado" que se configura entre o Renascimento e o século
XVII, o poder não é concebido como um efeito da verdade de uma Ordem permanente
e inalterável, mas, pelo contrário, a verdade é conjugada em termos de efeitos
contingentes. O significado dessa abordagem reside no fato de questionar a
tradição segundo a qual o poder corresponde a uma "ordem estabelecida"
(do "sistema capitalista" ao "sistema de lugares" dos
analistas do discurso). O poder é elogiado, para Foucault, nos "jogos da
verdade", como um efeito do conflito de forças - heterogêneo e contrposto
- um ao outro.
Também vale ressaltar, para essa análise,
a articulação de Foucault entre tecnologia e estratégia, considerada
“vertentes” da mesma atividade em “O que é iluminação? “. Uma vez que as ações
não são consideradas com base no que cada pessoa declara sobre si mesma, mas no
que as pessoas realmente fazem e na maneira como as fazem [11], um duplo
cúmplice entre tecnologia e estratégia intervém [ 12] Marcada por uma gestão da
atividade, essa inclinação efetiva não está ligada, para Foucault, a uma
singularidade hermética, mas, pelo contrário, fica de frente para o contexto
que a desafia.
Ao extrair a tecnologia de uma crosta de
aplicação objetiva ou de base científica, para vinculá-la à singularidade das
ações, Foucault libera a estratégia de um projeto de totalização, para
vinculá-la a uma intervenção emergente (atuante) na emergência (evento). Por
sua vez, essa articulação de tecnologia e estratégia entre si, que os converte
em aspectos da mesma "ontologia crítica de nós mesmos", é possível
porque Foucault dissolve o sujeito na subjetivação, ou seja, no "cuidado
de si" que nunca é por si só, mas sempre, além disso, ante os demais [13].
Não existe substância ou sujeito que resista ao fluxo, em um devenir cada qual
a partir de si mesmo, mas apenas na medida em que o seu próprio é questionado
pelos outros. Tampouco existe poder que possa, portanto, ser considerado alheio
à tecnologia (de se fazer a si mesmo) e à estratégia (de ser ante outros).
Embora Foucault tenha morrido uma década
antes do desenvolvimento da rede de redes, o indivíduo subjetivado sem sujeito
que nos legou adquire particular significação, diante do desenvolvimento
tecnológico que governa o presente. Cotrariamente a uma percepção que vincula
unilateralmente a tecnologia e em particular as "redes sociais", aos aparatos
de poder mundial e vigilância generalizada, os teóricos da tecnologia
destacaram a condição individualizada que advém com a artefactualidade. Raymond
Williams sublinhou, já em 1974, o aspecto principal da apropriação pessoal de
transmissões no desenvolvimento do rádio e da televisão [14]. Gilbert Simondon
abriu um campo de pesquisa sem precedentes em torno da individuação, na medida
em que o vinculava à especificidade do proceder técnico que pauta,
historicamente, as distintas inclinações da atividade humana [15].
Agindo sem essência definitiva, essa
individuação que promove a tecnologia não pode ser confundida com a adesão a
uma ordem total e definitiva. É a questão da ordem, a propósito, que está em
questão. Se um certo contágio do governo atua por via midiática, para replicar
o vírus da funcionalidade artefactual na própria natureza, outro contágio do
governo diz respeito, alternativamente, a todos os que participam da rede. Eles
são dois "contágio do governo" contrapostos. Diante da pandemia de
Covid-19, é conveniente enfatizar, do apelo dos governantes ao governo das
populações sobre si mesmas, o lado ancorado na governamentalidade: somos todos
governantes, ninguém é soberano.
https://ricardoviscardi.blogspot.com/2020/04/tecnovirusel-contagio-de-gobierno-2a.html
[1]“Talvi dijo que la cuarentena
obligatoria es inaplicable” Montevideo Portal (15/04/20) https://www.montevideo.com.uy/Noticias/Talvi-dijo-que-la-cuarentena-obligatoria-es-inaplicable–uc750170
[2]Flusser, V. (2015) El
universo de las imágenes técnicas. Buenos Aires: Caja Negra, p. 36.
[3]Vattimo, G. (2010) La
sociedad transparente. Barcelona: Paidós, p. 94.
[4]Ribeiro, S. “No le echen la culpa
al murciélago” (reportaje de C. Korol) Página 12 (03/04/20) https://www.pagina12.com.ar/256569-no-le-echen-la-culpa-al-murcielago?utm_medium=Echobox&utm_source=Facebook&fbclid=IwAR1HrtVaif7GTSwLwoYa11p4Sdy4TsZQ7PwN8AfBkgIMU_na0AOEi6ava_M#Echobox=1585927966 (Texto recomendado
por el Prof. Daniel Panario)
[5]Sidera, A. “Bergamo, la masacre
que la patronal no quiso evitar”, CTXT (10/04/20) https://ctxt.es/es/20200401/Politica/31884/Alba-Sidera-Italia-coronavirus-lombardia-patronal-economia-muertes.htm?fbclid=IwAR1chk4aioTP8wEwNLUEwSPka8hlY32NLp2rxfrJRYYQpPAo4jZj1DhjACo#.XpCg3lBPv4M.twitter?utm_source=facebook&utm_medium=social&utm_campaign=publico
[6]Casado, L. “Individualismo, mercado
y globalización: víctimas del Coronavirus” Uy.press (13/04/20) https://www.uypress.net/auc.aspx?103739
[7]Viscardi, R. “Chalecos Amarillos:
¿de la “pesadilla” a un despertar?, Universidades en Ciberdemocracia, http://entre-dos.org/node/212
[8]Derrida, J. (2001) L’université
sans condition. Paris: Galilée, p. 20. (trad. R.V.)
[9] Foucault, M.
(2004) Securité, Territoire, Population, Paris:
Gallimard-Seuil, pp. 381-382.
[10]Foucault, M. (2004) “Omnes et
Singulatim”, recopilado en Michel Foucault Philosophie, Paris:
Gallimard, p. 693.
[11]Foucault, M. (2004) op.cit. p.
878.
[12]Foucault, M. (2004) op.cit. p.
879.
[13]Foucault, M. (2004) op.cit. p.
881.
[14]Williams, R. (2011) Televisión:
tecnología y forma cultural. Buenos Aires: Paidós, p.43.
[15]Simondon, G. (2007) El
modo de existencia de los objetos técnicos. Buenos Aires: Prometeo,
p. 259.
Publicado inicialmente en Contragobernar - 2a. quincena, abril 2020
bien!!
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